Essa falta de existência a encabulava.
Não sabia dizer se era dor o que sentia. O sofrimento humano
lhe parecia pior. Então chamou aquilo de vazio. Uma espécie de ventania
que a soprava para o abismo.
Valentina nem sempre quis cair de verdade. Às vezes, só queria ver como as coisas ficavam pequenas lá de cima, tão pequenas e sem significado a ponto de se parecerem com ela. Aliás, chamava-se Valentina. Mas poderia ter qualquer outro nome que ele nada diria sobre quem era.
Valentina nem sempre quis cair de verdade. Às vezes, só queria ver como as coisas ficavam pequenas lá de cima, tão pequenas e sem significado a ponto de se parecerem com ela. Aliás, chamava-se Valentina. Mas poderia ter qualquer outro nome que ele nada diria sobre quem era.
Perdeu as contas de quantas vezes ensaiou o pulo. Perdia-se
nos pensamentos a imaginar a posição mais bonita para a morte. Os braços
abertos, de bruços, rosto para o lado. A face tão serena que se não fosse a
poça de sangue formada envolta da cabeça, diriam estar dormindo. Contudo,
então, anoitecia e voltava para casa. O balão da eternidade preso à memória
como companhia.
Nunca conseguiu afirmar, com certeza, se já existiu um lugar
no qual se sentisse à vontade, realmente. Era peça de outro quebra-cabeça. Com
frequência, concluía que já estava morta. O coração parar de pulsar era uma
questão de tempo.
Essa falta de existência um dia fez sentido.
Na beiradinha do precipício, não pulou. Deixou ser queda.
Abriu os braços, o vento soprava contra, agora, como se a impedisse. A
liberdade tomou conta. A morte iminente, a avenida lá embaixo, essas coisas
sumiram e deram lugar à felicidade absoluta. Era esse cair profundo o lugar de
Valentina.